sábado, 5 de junho de 2010

ECOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL















OS PROLETÁRIOS



A primeira geração de operários era formada por ex-camponeses que o progresso técnico expulsara dos campos, levando a procurar emprego nas cidades; ex-ar-tesãos arruinados pela concorrência das manufaturas e, mais tarde, das fábricas; e toda a sorte de pobres de diversas idades e ambos os sexos, obrigados a se submeter a condições subumanas de trabalho por baixíssimos salários.
Na fábrica, os turnos variavam de doze a dezesseis horas de trabalho por dia; os ambientes eram insalubres; o controle, severíssimo. A casa era apenas um dormitório onde a família toda se revezava na utilização das poucas camas.
A exploração do trabalho realizado por crianças de 6 a 1Z anos – que recebiam muito menos que os adultos – foi um dos aspectos mais degradantes da Revolução Industrial. Representava tamanho escândalo que, na Inglaterra, mesmo antes de meados do século XIX, o próprio Governo promulgou leis proibindo-a (aliás, inutilmente).
As mulheres ganhavam um pouco mais que as crianças, mas sempre menos que os homens; por essa razão, o emprego de mão-de-obra feminina tornou-se maciço. Ao mesmo tempo, as condições dos trabalhadores tornavam-se ainda mais duras pela absoluta falta de assistência: não existia nenhum tipo de previdência social que beneficiasse o trabalhador doente ou acidentado, ou qualquer intenção de proteger a sua velhice. Segundo um relatório de 1883 sobre as condições de vida da população operária inglesa, assim era um dia de trabalho normal de um operário adulto, sadio e com família para sustentar:
Ø 4-5 horas: acordar; uma xícara de chá.
Ø 6 horas: início do trabalho na fábrica.
Ø 8 horas: 30 minutos para uma pequena refeição, composta de uma xícara de chá e um naco de pão, feita enquanto controlavam as máquinas.
Ø 12-13 horas: descanso para o almoço, que era trazido de casa, normalmente apenas algumas batatas cozidas; os operários mais bem remunerados podiam se permitir um pedaço de carne de porco.
Ø 13/20-21 horas: trabalho contínuo, interrompido apenas por 20 minutos para “pão e chá”, durante a pausa, as máquinas deviam ser mantidas sob controle. O relatório afirma: “Os operários trabalham numa sala apinhada, com temperatura elevada, de modo que ao serem dispensados estão exaustos”.
Ø 22-23 horas: retorno à casa da família operária (pai, mãe, filhos, já que todos trabalham em fábrica). O jantar era composto de mingau ou sopa de aveia ou qualquer outro cereal, e batatas cozidas em água e sal. Após o jantar, cama, porque às 4 ou 5 horas deviam estar de pé para trabalhar.
O único dia de folga, na semana, era o domingo; as férias limitavam-se a quatro ou cinco dias por ano.
As preocupações dos patrões
A burguesia, na condição de classe dirigente, fez promulgar leis defendendo os seus interesses: pena de morte para quem destruísse fábricas ou máquinas; pesadas multas pelo delito de greve (atualmente um direito garantido pela Constituição de numerosos países) ; proibição aos operários de se organizarem em associações de defesa de seus interesses (hoje, os sindicatos são organizações legais em todas as nações civilizadas).
Todas essas sanções visavam proteger o que mais preocupava os patrões: seus bens materiais e o montante de seus lucros. A destruição de máquinas e fábricas, as greves e as associações operárias colocavam em risco o capital. Ora, só ameaçando o capital os operários teriam algum poder para negociar seus direitos com a burguesia. Para tanto, porém, precisavam se organizar.
O “luddismo”, a primeira opção
A primeira forma de protesto e de luta foi o chamado luddismo, ou seja, a revolta contra as máquinas. Aparentemente, a intenção dos operários era lógica, já que a máquina, funcionando 24 horas por dia, com precisão e a baixo custo, fora responsável pela destruição das antigas profissões.
1gnora-se quem lançou essa palavra de ordem violenta: se um certo Nedd Ludd, operário inglês executado por haver destruído um tear mecânico, ou se um fictício “general Ludd”, que assinava cartazes incitando à luta. De qualquer modo, o luddismo não iria resolver o problema dos operários. Se, por um lado, as máquinas tinham transformado duramente as condições dos trabalhadores, por outro, produziam artigos a baixo custo e em quantidades nunca antes registradas. Além disso, eram expressão de um progresso técnico que já não podia retroceder.
Mútuo socorro e cooperativas
Percebendo a inutilidade do luddismo, os trabalhadores procuraram novas formas de organização. Surgiram, assim, as primeiras “caixas de socorro mútuo”. Cada sócio doava uma parcela de seu salário a um fundo destinado a sustentar doentes, acidentados e desempregados; em alguns casos, pagava uma pequena pensão aos trabalhadores idosos ou inválidos. Ao mesmo tempo, apareceram as primeiras cooperativas de consumo, que aplicavam as contribuições dos associados na compra de mercadorias a preço de atacado, mercadorias que, em seguida, seriam revendidas a preços mais baixos que os cobrados pelos comerciantes.
Eram formas de organização rudimentares mas importantíssimas; a partir delas nasceria a organização sindical.

NASCE O SINDICATO
Procurando aumentar seus lucros ainda mais, os capitalistas contratavam, sempre que podiam, trabalhadores desempregados ou indivíduos dispostos a aceitar salários inferiores aos normalmente pagos. Era, portanto, necessário que os operários se organizassem de modo a impor aos patrões certas normas relativas às condições de trabalho e remuneração. Isso só se tornou possível com o surgimento dos sindicatos.
Os primeiros sindicatos surgiram na Inglaterra: eram as trade unions. A princípio, a legislação restritiva obrigava-os a funcionar clandestinamente. Mas, embora sofressem pressões de toda a espécie, eles acabaram sobrevivendo e, pouco a pouco, as medidas repressivas que se opunham ao seu funcionamento foram sendo abolidas. Na segunda metade do século XIX foram legalmente reconhecidos na Inglaterra e em outros países. A grande arma dos sindicatos era (e continua a ser) a greve: os trabalhadores deixavam de receber salário por não comparecer ao serviço, mas as perdas dos patrões eram muito maiores, pois as máquinas paradas não produziam.

SOCIALISMO E COMUNISMO
O opressivo sistema capitalista deu origem a sangrentas revoltas populares que eclodiram já na primeira metade do século XIX. Violentamente reprimidos, os operários tentavam compreender a razão dos seus males, procurando encontrar uma solução para eles. Como a causa desses males era a desigualdade das classes sociais, urgia construir uma sociedade onde todos fossem iguais, onde “patrão” e “operário” fossem sócios, tivessem os mesmos direitos e obrigações. Surgia uma nova ideologia – o socialismo. Os métodos para levá-la à prática dividiram a classe operária.
Alguns consideravam primordial modificar o “ser humano”, por meio de uma educação inspirada nas idéias de igualdade e fraternidade, e transformar as fábricas em cooperativas, onde todos recebessem o mesmo salário, sem que para isso fosse preciso recorrer à luta armada. Os que assim pensavam ficaram conhecidos' como socialistas utópicos, porque sonhavam com um mundo que nunca se concretizou. Partindo da crítica a esses socialistas, Karl Marx e Friedrich Engels, dois pensadores alemães, criaram o socialismo científico, também chamado de comunismo. Para eles, a história da humanidade é feita de contradições e lutas entre as classes, e só uma revolução dos trabalhadores poderia acabar com as injustiças sociais; os homens passariam, assim, do “reino da necessidade” para o “reino da liberdade”, onde não haveria propriedade privada, e a riqueza seria partilhada por todos.

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