sexta-feira, 7 de maio de 2010

REVOLTAS NATIVISTAS


ACLAMAÇÃO DE AMADOR BUENO

No ano de 1640, ocorreu a Restauração Portuguesa, isto é, o final da União Ibérica, quando Dom João VI assumiu o trono português, iniciando a dinastia de Bragança.
A notícia foi recebida festivamente nas principais cidades brasileiras. Em São Paulo, porém, a população teve reação diferente, seja porque pretendia manter o comércio com a região do rio da Prata (controlado pela Espanha), seja porque a Coroa Portuguesa vinha reprimindo a escravidão indígena (mão de obra essencial para os paulistas). Grande número de pessoas se dirigiu até a casa de um dos mais ricos habitantes da vila. Amador Bueno, aclamando-o “rei de São Paulo”.
Declarando-se fiel ao rei de Portugal, Amador Bueno não aceitou a coroa que lhe era oferecida. Dias depois, as autoridades pacificaram a população.

CONJURAÇÃO do “NOSSO PAI”

O governador de Pernambuco, Jerônimo de Menfonça Furtado, era antipatizado pelo povo, descontente com o seu mau governo. Para tirá-lo do poder, os pernambucanos simularam, em 9 de março de 1666, uma procissão semelhante às que levavam a extrema-unção (hoje unção dos enfermos) aos moribundos – as chamadas procissões de “Nosso Pai”. O governador acompanhou a procissão e, quando esta já havia de afastado do palácio, foi aprisionado pelo chefe da revolta, André de Barros Rego. Jerônimo de Mendonça Furtado foi levado preso para Lisboa, de onde seguiu para a Ásia, onde foi condenado à prisão perpétua.

REVOLTA DE BECKMAN

No século XVII, a situação econômica do Maranhão era bastante difícil, devido à enorme escassez de mão-de-obra para a lavoura canavieira. Para resolver o problema, os colonos maranhenses lançaram mão da escravidão indígena, sob os protestos dos jesuítas.
Na tentativa de solucionar os graves problemas econômicos da região, a Coroa Portuguesa criou a Companhia de Comércio do Estado do Maranhão, com o monopólio sobre a venda de trigo, azeite, vinho, bacalhau e sobre o transporte de todas as importações e exportações. A Companhia ficou ainda responsável por introduzir na área 10 mil negros, à razão de 500 por ano.
Devido ao não cumprimento dos acordos por parte da Companhia, comerciantes e proprietários rurais maranhenses, chefiados pelos irmãos Manuel e Tomás Beckman e por Jorge Sampaio, passaram a lutar pela extinção da Companhia de Comércio e pela expulsão dos jesuítas, depuseram as autoridades locais e formaram uma junta de governo rebelde.
Tomás Bekman partiu para Lisboa, a fim de informar o rei sobre os abusos da Companhia. Lá chegando, foi preso e reconduzido ao Maranhão, onde Gomes Freire – novo governador indicado por Portugal – iniciava a repressão ao movimento.
Atuando com firmeza, Gomes Freire recolocou no poder as autoridades depostas e capturou os rebeldes. Manuel Beckman e Jorge Sampaio foram enforcados e Tomás Beckman exilado na África. Os jesuítas voltaram e a Companhia de Comércio foi reativada.

GUERRA DOS EMBOABAS

Como vimos anteriormente, os bandeirantes paulistas encontraram ouro nas Gerais.
Assim que a notícia se espalhou, milhares de aventureiros fluíram para a região.
Os forasteiros passaram a ser chamados pejorativamente de “emboabas”. Essa palavra indígena, de significado discutível, parece referir-se ao fato de os forasteiros protegerem as pernas e os pés com botas ou rolos de pano, parecendo-se com ave de pernas emplumadas.
Não tardou paulistas e “emboabas” entrarem em conflito.
Os paulistas tinham em Manuel de Borba Gato o seu principal líder, enquanto o rico comerciante português Manuel Nunes Viana liderava os “emboabas”.
Os paulistas foram sofrendo vários reveses. O mais repugnante ocorreu no local chamado “Capão da Traição”, quando o chefe “emboaba” Bento do Amaral Coutinho prometeu respeitar a vida dos paulistas que entregassem as armas. Quando estes entregaram as armas, foram impiedosamente massacrados.
A guerra durou dois anos (1708/1710) e teve enormes bandos em luta. Milhares de mortos. A historiografia oficial dirá que foi uma das primeiras lutas nativistas no Brasil. Os paulistas pretendiam livrar-se de Portugal. Na verdade, queriam apenas ouro. Tão alheios ao Brasil como os emboabas. A conseqüência maior dessa guerra é a consciência do governo português de organizar uma melhor administração, criando a capitania das Minas do Ouro, separada do Rio de Janeiro.
Não há índices ou documentos que demonstrem porque índios e negros lutaram pelos interesses dos brancos, a não ser vagos depoimentos a posteriori sobre a “abnegação e fidelidade” dos escravos.


GUERRA DOS MASCATES

Com a invasão holandesa, Recife passou a ser a principal cidade de Pernambuco, embora a capital continuasse em Olinda.
Acontece que em Olinda viviam os decadentes senhores de engenho, cada vez mais endividados. Enquanto isso, os comerciantes de Recife prosperavam. Despeitada, a aristocracia olindense passou a chamar os comerciantes, pejorativamente, de mascates.
Em 1709, o rei de Portugal, D. João V, elevou Recife a município e o Capitão-mor Sebastião de Castro e Caldas mandou erguer o pelourinho (símbolo do poder municipal). Este fato irritou profundamente os senhores de engenho de Olinda.
Os olindenses invadiram Recife e destruíram o pelourinho. O Governador Castro Caldas fugiu.

Para garantir suas posses, os senhores brasileiros fizeram a guerra. Não deixa de ser interessante que, durante o conflito, nas várias situações em que a derrota e a vitória trocam de lado, o grande latifundiário Bernardo Vieira de Melo propõe a proclamação de uma república em Olinda. Segundo sua proposta, Olinda seria uma república independente. Nada se efetivou, mas é significativo que os conservadores apelem, vez por outra, a formas progressistas de governo, procurando manter anacrônicos conteúdos econômicos e sociais; no caso, apela-se à república para preservar o latifúndio e o regime servil.
Os grandes senhores “nativistas” perderam a guerra, mas não a pose. Uma de suas exigências para fazer a paz foi que nenhuma propriedade fosse executada judicialmente. Quer dizer, não pagariam as suas dívidas nem entregariam seus engenhos falidos. Os mascates, pressionados por Lisboa, aceitaram.
Garantida a posse e certos de não serem cobrados judicialmente, os nobres senhores aceitaram Recife como capital, com o famoso “jeitinho brasileiro”; o capitão-mor deveria morar seis meses em Recife e seis meses em Olinda...
E tudo ficou igual.

MOTINS DO MANETA

Nos últimos meses de 1711, ocorreram duas sublevações populares na Bahia. A razão do primeiro motim, chefiado pelo negociante João Figueiredo da Costa, apelidado o Maneta, foi um aumento de impostos decretado pelo governo. A multidão, formada principalmente por portugueses, avançou contra o palácio do governador Pedro de Vasconcelos e Sousa, que atendeu aos pedidos da massa popular. Todos os participantes da revolta foram anistiados.
Pouco tempo depois, ocorreu outro motim na Bahia, quando a esquadra francesa do corsário Duguay-Trouin ocupou o Rio de Janeiro. Os revoltosos queriam a organização imediata de uma expedição para combater os invasores. O governador Pedro de Vasconcelos conseguiu contornar a situação até os franceses deixarem o Rio de Janeiro.

REVOLTA DE FELIPE DOS SANTOS

A Coroa Portuguesa decidiu criar, em 1719, as casas de fundição, a fim de recolher e transformar em barras todo o ouro encontrado, para extrair o quinto e evitar o contrabando. Prevendo o descontentamento e uma possível revolta, foi enviada a Minas uma tropa dos “dragões da cavalaria”, comandada pelo Conde de Assumar, terceiro governador da recém-criada Capitania de São Paulo e Minas do Ouro.
Contra tais decisões do governo, ocorreu em Vila Rica a revolta de 1720, chefiada por membros influentes da comunidade mineira e tendo como principal mentor Felipe dos Santos, homem humilde, porém, grande orador.
Os rebeldes entregaram um documento ao governador fazendo as seguintes exigências:
· redução dos impostos;
· suspensão da medida que determinava a obrigatoriedade da fundição do ouro;
· extinção dos monopólio da carne, aguardente, fumo e sal.
O Conde de Assumar fingiu atender às reivindicações dos rebeldes e, assim que os ânimos serenaram, agiu rapidamente. Ocupou Vila Rica, prendeu e enforcou Felipe dos Santos.
A rebelião foi reprimida, porém contribuiu para acelerar o processo de tomada de consciência do povo contra a dominação portuguesa.

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